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Foto do escritorLuiz Andriguetto

A leitura como auxílio humanizado e inclusivo na luta antimanicomial


livro aberto com flores em cima e uma xícara de chá ao lado
Imagem: Pexels.

O Dia Nacional da Luta Antimanicomial é marcado no Brasil em todo 18 de maio. Organizado por diversos movimentos sociais, grupos, coletivos e entidades, o dia é de celebração e de luta, em espaços públicos, serviços de saúde mental e universidades. A data marca as mobilizações em torno do fechamento de manicômios e a formalização de novas legislações, a implantação da rede de saúde mental e atenção psicossocial e da instauração de novas práticas em um importante movimento de Reforma Psiquiátrica Brasileira, uma referência internacional.


Um movimento que surgiu internacionalmente na década de 1960, com o objetivo de reformular os métodos de tratamento de pessoas com transtornos mentais, buscando a desinstitucionalização e a promoção da inclusão social desses indivíduos. Começou na Itália com o trabalho de Franco Basaglia e seu Movimento da Psiquiatria Democrática, que questionava o modelo de tratamento manicomial e defendia uma abordagem mais humanizada e comunitária para lidar com os transtornos mentais.


Ao longo das décadas seguintes, o movimento antimanicomial ganhou força em vários países, influenciando políticas de saúde mental em todo o mundo. No Brasil, a luta antimanicomial começou a ganhar destaque na década de 1980, principalmente após o 2º Congresso Nacional de Trabalhadores em Saúde Mental, realizado em 1987. Esse congresso foi um marco na história da saúde mental no Brasil, pois reuniu profissionais, usuários e familiares em prol de uma reforma psiquiátrica que priorizasse a inserção social e a dignidade das pessoas com transtornos mentais.


Uma das conquistas mais importantes desse movimento foi a criação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs). Os CAPs são serviços de saúde mental que oferecem atendimento comunitário e integral, buscando substituir o modelo hospitalocêntrico por uma abordagem mais humanizada e inclusiva. Esses centros desempenham um papel fundamental na reinserção social e na promoção da autonomia das pessoas com transtornos mentais.


No contexto terapêutico, a biblioterapia e o letramento literário têm sido utilizados como estratégias complementares no tratamento de transtornos mentais. A biblioterapia consiste no uso de livros e da leitura como ferramentas terapêuticas para auxiliar no processo de compreensão e superação de questões emocionais e psicológicas. O letramento literário, por sua vez, refere-se à capacidade de compreender e interpretar textos literários de forma crítica e reflexiva, o que pode contribuir para o desenvolvimento pessoal e emocional dos pacientes.


Algumas obras que podem ser úteis tanto para profissionais de saúde quanto para pacientes, familiares e interessados em desmistificar transtornos mentais incluem:


  1. "O Demônio do Meio-Dia: Uma Anatomia da Depressão" - Andrew Solomon



Partindo de sua própria batalha contra a depressão, Andrew Solomon constrói um retrato monumental da doença que assola nossos tempos. Lançado em 2000, O demônio do meio-dia continua sendo uma referência sobre a depressão, para leigos e especialistas. Com rara humanidade, sabedoria e erudição, o premiado autor Andrew Solomon convida o leitor a uma jornada sem precedentes pelos meandros de um dos temas mais espinhosos e complexos de nossos dias. Entremeando o relato de sua própria batalha contra a doença com o depoimento de vítimas da depressão e a opinião de especialistas, Solomon desconstrói mitos, explora questões éticas e morais, descreve as medicações disponíveis, a eficácia de tratamentos alternativos e o impacto que a depressão tem nas várias populações demográficas (sejam crianças, homossexuais ou os habitantes da Groenlândia).


2. "A Estranha Ordem das Coisas: A Vida, os Sentimentos e as Culturas Humanas" - António Damásio



Escrito por um dos neurocientistas mais proeminentes da atualidade, este livro traz uma reflexão divisora de águas, que abrange as ciências biológicas e sociais, oferecendo uma nova maneira de entender as origens da vida, os sentimentos e a cultura. António Damásio apresenta aqui uma pesquisa inovadora sobre a homeostase, uma coleção de fenômenos que regula a fisiologia humana por meio de mecanismos que possibilitam não apenas a nossa sobrevivência, mas também o florescer da vida. Em A estranha ordem das coisas, Damásio nos oferece uma nova maneira de compreender o mundo e o nosso lugar nele. 


3. "O Sol é para Todos" - Harper Lee



Sucesso desde a sua publicação, em 1960, O sol é para todos, de Harper Lee, se mantém como um dos romances mais adorados em todo o mundo e aborda questões de preconceito e saúde mental. Acompanhando três anos da vida dos jovens Jem e Scout Fincher numa terra de profundo preconceito racial, a história é pontuada pelo caso de um homem negro injustamente acusado do estupro de uma garota branca numa pequena cidade do Alabama. Retrato fiel do terreno sulista norte-americano no início dos anos 1930, foi eleito pelo americano Librarian Journal o melhor romance do século XX. 


4. "Teto Para Dois" - Beth O'Leary



Eles dividem um apartamento com uma cama só. Ele dorme de dia, ela, à noite. Os dois nunca se encontraram, mas estão prestes a descobrir que, para se sentir em casa, às vezes é preciso jogar as regras pela janela.  Três meses após o término do seu relacionamento, Tiffy finalmente sai do apartamento do ex-namorado. Agora ela precisa, para ontem, de um lugar barato para morar. Contrariando os amigos, ela topa um acordo bastante inusitado. Leon está enrolado com questões financeiras e tem uma ideia pouco convencional para arranjar dinheiro rápido: sublocar seu apartamento, onde fica apenas no período da manhã e da tarde nos dias úteis, já que passa os finais de semana com a namorada e trabalha como enfermeiro no turno da noite. Só que tem um detalhe importante: o lugar tem apenas uma cama. Sem nunca terem se encontrado pessoalmente, Leon e Tiffy fecham um contrato de seis meses e passam a resolver as trivialidades do dia a dia por Post-its espalhados pela casa. A autora trata de forma leve e tocante questões de saúde mental.


5. "Como Eu Era Antes de Você" - Jojo Moyes



Como eu era antes de você é uma história de amor e uma história de família, mas acima de tudo é uma história sobre a coragem e o esforço necessários para retomar a vida quando tudo parece acabado. Explora temas como deficiência e qualidade de vida, Aos 26 anos, Louisa Clark não tem muitas ambições. Ela mora com os pais, a irmã mãe solteira, o sobrinho pequeno e um avô que precisa de cuidados constantes desde que sofreu um derrame. Trabalha como garçonete num café, um emprego que não paga muito, mas ajuda nas despesas, e namora Patrick, um triatleta que não parece interessado nela. Não que ela se importe. Quando o café fecha as portas, Lou é obrigada a procurar outro emprego. Sem muitas qualificações, consegue trabalho como cuidadora de um tetraplégico. Will Traynor, de 35 anos, é inteligente, rico e mal-humorado. Preso a uma cadeira de rodas depois de um acidente de moto, o antes ativo e esportivo Will desconta toda a sua amargura em quem estiver por perto.


6. "A Psicanálise dos Contos de Fadas" - Bruno Bettelheim 



Em "A Psicanálise dos Contos de Fadas", Bruno Bettelheim analisa a psicologia dos contos de fadas. Faz uma radiografia das mais famosas histórias para crianças, arrancando-lhes o seu verdadeiro significado. Os contos de fadas, considerados por pais e educadores até pouco tempo como "irreais", "falsos" e cheios de crueldade, são, para as crianças, o que há de mais real. Algo que lhes fala, em linguagem acessível, do que é real dentro delas. Os pais temem que os contos de fadas afastem as crianças da realidade, através de mágicas e de fantasias. Porém, o real, a que os adultos comumente se referem, é o externo, é o mundo circundante, enquanto que o conto de fadas fala de um mundo bem mais real para as crianças.


7. "Tartarugas Até Lá Embaixo" - John Green



A história acompanha a jornada de Aza Holmes, uma menina de 16 anos que sai em busca de um bilionário misteriosamente desaparecido - quem encontrá-lo receberá uma polpuda recompensa em dinheiro - enquanto tenta lidar com o próprio transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Repleto de referências da vida do autor - entre elas, a tão marcada paixão pela cultura pop e o TOC, distúrbio mental que o afeta desde a infância -, Tartarugas até lá embaixo tem tudo o que fez de John Green um dos mais queridos autores contemporâneos. Uma ficção que retrata a experiência de viver com transtorno obsessivo-compulsivo.


Essas obras oferecem diferentes perspectivas sobre os transtornos mentais e podem ajudar na compreensão e na superação de estigmas e preconceitos relacionados à saúde mental.


Créditos das imagens: Estante Virtual.


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